Ando com medo. É um facto que me persegue e parece dar toques no ombro, como quem me chama sempre que me distraio. Eu explico: a minha vizinha do 7ºesq confundiu-me com um dos elementos do conselho de justiça da Federação Portuguesa de Futebol. Tal confusão na sua cabeça criou uma onda de choque no prédio, no bairro inteiro. Adeptos do FCP e do Boavista não faltam e agora... estou com medo.
Ainda ontem saí descansado para almoçar (coisa que faço com algum prazer em poucos e muito bem seleccionados invictos restaurantes) quando de repente, tinha à minha beira um aglomerado de olhares irados, raiados de sangue e prontos a explodir. As mãos agarravam discretos paus e ferros, com ar de quem se apoia para caminhar. Mas o que mais me assustou foi mesmo a espuma que escorria de algumas bocas.
Não falei. Mesmo que quisesse não conseguía, pois o medo que me subia pelas pernas havia paralisado todo o meu corpo e nem os cabelos mexiam ao sabor do vento. Alguém proferiu uma acusação numa inteligível verbalização, seguida de urros de apoio dos restantes mastodontes e "mastodontas". Sim, porque não pensem que estava com medo dos homens! Não, aquilo que temia era o todo de fêmeas que protegiam a sua prole contra o ataque do mais temível dos predadores!
Cheguei a sentir uma ligeira alteração intestinal, devo confessar. E até agora não sei como, depois da primeira paulada consegui ainda dizer que não era quem pensavam. De pouco me serviu e apenas a intervenção do corpo especial da polícia conseguiu parar aquilo que se seguiu.
Não sei bem onde estou. Pelas máquinas e cor das paredes diria que no hospital.
Não sei bem para onde vou. Pelo que aconteceu diria que nunca mais de volta a casa.
Vou aproveitar e dar uma volta pelo mundo, pode ser que não seja confundido com mais ninguém. Isto nunca me tinha acontecido.
Gervásio Piteiras
terça-feira, 15 de julho de 2008
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